Alguns livros são tão bons, que se tem ânsia de devorá-los e avançar a leitura o mais rápido possível para adentrar cada vez mais naquele universo. Outros, de tão deliciosos, dão vontade de se demorar muito mais, como se saboreando um ótimo vinho. Este é o caso de "Crônicas" do lendário Bob Dylan. Percebe-se de imediato, que sua alquimia com as palavras vai além das letras de suas canções. O texto é tão bom, tão cheio de nuances, riqueza e poesia, que tenta-se economizar na leitura, para o livro durar mais.
Com 50 anos de carreira completados em 2012, e quase 50 álbuns oficiais, Bob Dylan é um dos maiores nomes da música de todos os tempos. Lenda viva inegável, sua maior criação foi ele mesmo, se reinventando ao longo de sua carreira. Isto ele deixa bem explícito no livro, principalmente ao contar seu início em Nova Iorque, e as gravações dos álbuns "New Morning" e "Oh Mercy".
O livro não é exatamente uma autobiografia, é mais um auto-retrato em diversas épocas, porque ele não procura contar sua trajetória. Sua abordagem não é linear, mudando de foco constantemente dos fatos para suas impressões sobre o mundo e as pessoas ao seu redor.
Em "Crônicas - Volume Um", Dylan dedica cada capítulo a um período de sua vida, mas deixando vários anos sem um único comentário. Fora a curiosidade pelos próximos "Volumes" (serão três ao todo), fica a vontade de adentrar novamente no mundo poético e singular de um dos maiores criadores/pensadores da música.
Como Eduardo Bueno coloca muito bem no Posfácio do livro: "Se Elvis liberara o corpo, Dylan libertou a mente. Dylan não inventou o rock - ele apenas lhe deu um cérebro." É uma obra fundamental para todos os fãs, dele ou da música pop dos últimos 50 anos.
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