Este foi o livro mais impressionante que eu li nos últimos tempos. Absurdamente bem escrito e estruturado, a escritora Jennifer Egan monta um brilhante mosaico sobre a vida e o tempo, com passagens da história de diversos personagens, interligados de alguma forma.
Usando a música como pano de fundo, a autora passeia por cinco décadas sem ordem cronológica, focando em cada capítulo numa pessoa diferente, mas voltando às vezes aos mesmos, em outras épocas. Percebe-se aí o brilhantismo do texto, pois cada capítulo é como um conto, forte e independente, com pontos de vista e estilo narrativo próprios. Mas colocados juntos, montam uma história inteligente, complexa e sensível.
No livro, alguns personagens têm mais destaque e acabam servindo de referência temporal por aparecerem em diversas fases da vida como: Bennie Salazar, executivo da indústria musical; a cleptomaníaca Sasha, sua assistente em certo período; Lou, famoso produtor musical dos anos 70 e mentor de Bennie; Jules, desequilibrado jornalista, cunhado de Bennie; Scotty, talentoso guitarrista, amigo de Bennie na juventude; Dolly, experiente assessora de imprensa novaiorquina; entre vários outros. Como o sistema de busca em "nuvem", os personagens passam de primeiro a terceiro plano, de capítulo a capítulo.
O livro na verdade extrapola o título "A Visita Cruel Do Tempo". Jennifer Egan consegue criar uma pintura do que é a vida e a ação do tempo, e provavelmente, apenas os leitores com mais de três décadas poderão captar isso.
Quando se observa o que vivemos com distanciamento, e as pessoas próximas de nós, é possível perceber que nem tudo o que foi planejado foi cumprido e nem todos sonhos se realizaram. Mas também, nem todas as tragédias e frustrações foram intransponíveis. Tudo que vivenciamos, ou deixamos de fazer, faz parte do que somos. Boa leitura!
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